VENDA NOVA

Chuva adia obra na Vilarinho, em BH, que visa prevenir alagamento

O nível de água acima do previsto no projeto básico dificultou o “método construtivo previsto”

Chuva adia obra na Vilarinho, em BH, que visa prevenir alagamento
Publicado em 03/01/2025 às 6:43

Palco de mortes em um passado recente, a avenida Vilarinho, em Venda Nova, foi alvo de um projeto com a promessa de fim das enchentes que historicamente devastam a via de Venda Nova. As obras, que tiveram início em 2021, tinham como cronograma de entrega de uma parte relevante o reservatório 2, em 2024. Porém, finalizado o ano e já no período chuvoso, que tem deixado pessoas ilhadas em várias partes da região metropolitana, as intervenções ainda estão em curso. A justificativa da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) é que chuvas além do previsto no projeto impediram de executar a obra dentro do cronograma. 

Em nota, a PBH disse que “a reprogramação do cronograma foi motivada pela complexidade da execução, na qual o nível de água (do lençol freático) subiu além do previsto no projeto básico e também pela instabilidade do solo, que dificultou o método construtivo previsto no projeto”. Quando concluído, o complexo de reservatórios vai reduzir os riscos de inundações na região nos eventos críticos de chuvas. O problema é que o novo prazo, diz o Executivo, é até junho deste ano – após o período chuvoso. 

“São obras extremamente complexas de macrodrenagem, que dependem de escavação e, obviamente, das condições do solo encontradas durante o processo. Nossa estratégia era priorizar a obra na Vilarinho, por isso a previsão era concluí-la ainda em 2024, mas enfrentamos algumas dificuldades na execução”, diz o secretário municipal de Obras e Infraestrutura, Leandro César Pereira. Ele explica que o reservatório Vilarinho 2 tem 30 m de profundidade, o equivalente a um prédio de dez andares de cabeça para baixo. A estrutura tem um investimento de R$ 150 milhões, garantido por meio de financiamento da Caixa.

O engenheiro Deyvid Rosa, especialista em meio ambiente e recursos hídricos, explica que o nível de água no lençol freático aumenta após grandes volumes de chuva, à medida que a água se infiltra no solo. Segundo ele, as previsões de precipitação para a capital mudaram desde o início das obras, em 2021. “Quando a intervenção foi iniciada, provavelmente o nível do lençol freático estava mais baixo. Nos últimos meses, a capital recebeu mais chuva do que o esperado. Isso deixa o solo úmido, eleva o nível do lençol freático e dificulta o avanço da obra”, diz.

Rosa afirma que o risco, nesses casos, é o reservatório perder capacidade de armazenamento de água se a engenharia não conseguir superar os obstáculos. Segundo a prefeitura, o reservatório já armazenou até 60 milhões de litros de água durante as chuvas mais severas do ano passado, mas pode reter até o dobro disso. “Enquanto a bacia não estiver concluída, a eficiência será mais baixa. É recomendação técnica que os reservatórios ou complexos de bacias sejam projetados para suportar uma chuva de cem anos, como a que ocorreu em novembro do ano passado, que causou alagamentos nas ruas ao redor da Vilarinho”, avalia Rosa.

De fato, naquele temporal, choveu pouco mais de 70 mm na região de Venda Nova em uma hora. A PBH comparou o evento à “chuva de mil anos” – nome dado ao fenômeno que devastou a cidade em 20 de janeiro de 2020.

Mais alagamentos para o início de 2025

Belo Horizonte está há duas semanas sob chuvas consecutivas. A capital, depois de registrar o segundo dezembro mais chuvoso da década, com mais de 410,1 milímetros (mm) de chuva, inicia 2025 em um cenário de instabilidade climática. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), isso indica mais precipitações contínuas e pancadas intensas, pelo menos, até a primeira quinzena de janeiro.

O cenário é propício para novos alagamentos na região da Vilarinho, já que obras inacabadas reduzem a capacidade de captação de água, e o período chuvoso só termina em março, segundo o engenheiro Deyvid Rosa, especialista em meio ambiente e recursos hídricos. 

“Estamos em uma estação chuvosa atípica, com volumes e intensidades de chuva significativamente maiores em comparação ao ano passado. Além disso, o solo está saturado, o que reduz a capacidade de infiltração. Isso nos coloca em estado de alerta para riscos geológicos e inundações. Nas regiões de fundo de vale, como na Vilarinho, infelizmente, esses eventos tendem a ser mais intensos”, alerta.

Para o urbanista Rogério Palhares, o fim dos alagamentos na Vilarinho exige mais do que grandes obras. “Tudo indica que as intervenções não são suficientes para conter os alagamentos em longo prazo, especialmente em tempos de mudança climática. Não bastam obras no fundo do vale. É necessário adotar medidas que reduzam o escoamento da água em toda a bacia hidrográfica”, avalia.

A Prefeitura de Belo Horizonte informou que, além dos investimentos em obras, “desenvolve ainda ações permanentes de prevenção às enchentes e proteção da população contra os riscos de desastres durante todo o ano”, como limpeza de bocas de lobo e de vias, galerias, fundos de vales de córregos, contenção de encostas e o trabalho preventivo de alerta e conscientização dos moradores das áreas de inundação da cidade.

“Há ainda um Sistema de Monitoramento Hidrológico capaz de subsidiar as ações de alerta e enfrentamento do risco de inundações, bem como acionar planos de bloqueio de vias durante as chuvas de maior intensidade”, acrescentou. 

O que diz a PBH na íntegra? 

“A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informa que a reprogramação do cronograma foi motivada pela complexidade da execução, na qual o nível de água subiu além do previsto no projeto básico e também pela  instabilidade do solo que  dificultou o método construtivo previsto no previsto no Projeto.

Os dois reservatórios previstos, quando estiverem concluídos, vão reduzir os riscos de inundações na região nos eventos críticos de chuvas.Além disso, é importante ressaltar que, mesmo o reservatório Vilarinho 2 não estando concluído, neste período chuvoso ele já mostrou funcionalidade armazenando 60 milhões de litros de água nos eventos de chuvas mais severos que atingiram a região de Venda Nova, evitando ocorrências de maior proporção. 

Em especial na região de Venda Nova, a Prefeitura vem ao longo dos últimos anos executando obras de macrodrenagem com o objetivo de, no conjunto, essas obras reduzirem ocorrências de inundações e alagamentos, a saber:

Obras de tratamento de fundo de vale e contenção de cheias da bacia do Córrego do Nado (Sub-bacias Lareira e Marimbondo):

Iniciadas em maio de 2019 e concluídas em janeiro de 2022, a 1ª etapa das obras de prevenção de enchentes na região de Venda Nova contempla o tratamento de fundo de vale e contenção de cheias da bacia do Córrego do Nado, atuando nos córregos Marimbondo (bairro Santa Mônica) e Lareira (bairro São João Batista). A expectativa é de que, ao regular as vazões dos córregos Marimbondo e Lareira, melhore a capacidade de escoamento do córrego Vilarinho. Nesta primeira etapa (incluindo as desapropriações) foram investidos aproximadamente R$ 98 milhões em projeto, obra, indenização e desapropriação, recursos repassados pelo PAC, com contrapartida do Fundo Municipal de Saneamento. Foram feitas duas barragens de concreto no córrego Lareira com capacidade de armazenar 78 milhões de litros de água durante os eventos de chuvas fortes.

Caixa de Captação da av. Vilarinho concluída em dezembro de 2021, configurando a 2ª etapa de obras de prevenção de inundações na avenida Vilarinho e rua Doutor Álvaro Camargos, região de Venda Nova. Nesta etapa foi implantada uma estrutura hidráulica de captação dos escoamentos superficiais (caixa de captação) no emboque do Ribeirão Isidoro, localizado na avenida Vilarinho com rua Doutor Álvaro Camargos e rua Maçon Ribeiro. Essa estrutura tem área aproximada de 2.500 m² e capacidade de armazenar volume da ordem de 10 mil m³ (10 milhões de litros), com a função de drenar o excesso de águas sobre as vias durante os eventos chuvosos mais intensos, reduzindo o risco de elevação da lâmina d’água na região e o tempo de permanência da água sobre a pista.”