APOIO DO JOÃO XXIII
Bloco cirúrgico pode ficar fechado em BH até março, diz diretoria da Fhemig em reunião
Ministério do Trabalho acompanha transferência de servidores e pacientes para o João XXIII; peça estragada é importada
A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) estabeleceu o primeiro prazo para o retorno do funcionamento pleno do bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), na região Centro-Sul de Belo Horizonte: março. Ou seja, serão mais dois meses de transferência de servidores e pacientes para o Hospital João XXIII, o que sobrecarrega o pronto-socorro com mais 200 cirurgias mensais. A declaração foi feita por diretores da Fhemig em reunião com o Ministério do Trabalho e Emprego de Minas Gerais na segunda-feira (13 de janeiro).
Conforme o superintendente regional do Trabalho em Minas, Carlos Calazans, os representantes do hospital alegaram que as peças estragadas do bloco operatório são importadas e, por isso, a licitação e compra dos materiais podem demorar meses. A Fhemig detalhou que um dos materiais é um intensificador de imagens (dispositivo que converte raios-X em luz visível), mas “outros equipamentos essenciais para a realização de cirurgias” também foram danificados. A instituição afirma que foi necessário fechar a ala para revisão.
De fato, os servidores denunciam que o bloco foi completamente esvaziado: móveis e equipamentos foram recolhidos, e as portas permanecem trancadas. Na reunião mediada pelo Ministério do Trabalho, servidores dos hospitais Amélia Lins e João XXIII reclamaram da morosidade da manutenção e da falta de diálogo por parte da diretoria. “Os trabalhadores criticaram muito a morosidade do processo e a mudança abrupta que foi imposta na rotina deles. Os servidores denunciam que o João XXIII está sobrecarregado e que não há necessidade de fechamento do bloco só por causa das peças estragadas”, detalha o superintendente Carlos Calazans.
O Ministério formou uma comissão de trabalhadores e representantes da Fhemig para dar transparência ao processo de manutenção do bloco operatório. Para o encontro de fevereiro, há expectativa de participação do secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, que não pôde comparecer na segunda-feira. “Ele conversou comigo por telefone. Estava em São Paulo, mas agradeceu a mediação e disse que vai se organizar para participar da próxima reunião. O foco agora é conseguir o equipamento o mais breve possível”, diz Calazans.
Outra possibilidade levantada na reunião seria o empréstimo de equipamentos por outras unidades de saúde da Fhemig. A fundação, no entanto, não confirmou que essa alternativa seja viável.
Cirurgias canceladas sem data de retorno
Um dos médicos do HMAL, que não será identificado, descreve a situação no pronto-socorro do João XXIII como “caótica”, com cancelamentos de cirurgias e ausência de previsão para reagendamento – o que pode resultar em uma espera de meses.
“No Amélia Lins, é comum termos uma escala fixa semanal. Em um dia, realizamos de 12 a 15 cirurgias. São casos agendados que precisam ser feitos dentro de um prazo. Desde que fomos transferidos para o João XXIII, essa escala não se mantém. Em alguns dias, metade das cirurgias é cancelada sem aviso prévio aos pacientes”, denuncia o cirurgião. Ele destaca que o Amélia Lins oferece técnicas cirúrgicas em ortopedia que não estão disponíveis em todos os hospitais, o que aumenta significativamente a demanda.
A dificuldade de remarcação agrava a situação, criando uma fila que parece interminável. “A fila é enorme, eu costumo dizer que é infinita. A demanda só cresce e, com os cancelamentos, o problema se torna uma bola de neve. Não é possível definir que um caso é mais urgente que o outro. Temos cirurgias agendadas até fevereiro. Os casos cancelados saem do João XXIII sem previsão de retorno. Não há como oferecer um prazo agora”, lamenta o profissional. Ele relata ainda que, em algumas situações, pacientes viajam mais de 300 km para realizar os procedimentos, mas acabam voltando para casa sem atendimento.
O que diz a Fhemig?
“As escalas estão sendo definidas em comum acordo pela coordenação do bloco, lembrando que os serviços estão funcionando ininterruptamente, com escala completa, o que tem possibilitado mais agilidade nos procedimentos cirúrgicos e na recuperação clínica dos pacientes (egressos do próprio João XXIII e que anteriormente passavam por cirurgia no HMAL).
A Fhemig ressaltou que o Hospital João XXIII, com oito salas em seu bloco cirúrgico, tem plena capacidade e estrutura para atender casos de urgência, assim como os pacientes com cirurgias programadas vindos do HMAL. Ainda reforçou que mantém diálogo aberto com os servidores e se colocou à disposição para esclarecer dúvidas nas unidades ou por meio dos canais institucionais de comunicação.”