SAÚDE
BH tem recorde de casos de coqueluche em 10 anos e entra 2025 com vacinação abaixo do ideal
Na capital mineira, apenas 75% do público-alvo está imunizado, conforme a prefeitura
Os casos de coqueluche — infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis — bateram recorde em Belo Horizonte em 2024, com mais de 320 confirmações e uma morte. O aumento é de mais de 790% em relação a 2017, ano com maior número de registros na última década, com 36 casos. Com apenas 75% do público-alvo imunizado, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) montou uma força-tarefa em 2025 para conscientizar pais e responsáveis sobre a importância da vacinação contra a enfermidade, que pode ser fatal. A vacina está disponível gratuitamente em todos os postos de saúde.
Em todo o Estado de Minas Gerais, 598 casos da enfermidade foram confirmados no ano passado, além de cinco mortes. Todas as vítimas tinham menos de 1 ano de idade. Os óbitos foram registrados em Belo Horizonte, Capelinha, Poços de Caldas, Ribeirão das Neves e São Joaquim de Bicas. A primeira morte foi registrada em 19 de julho, em Poços de Caldas. A vítima foi um bebê de um mês e 23 dias, após o Estado não registrar mortes pela enfermidade por um período de quatro anos.
Segundo o diretor de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da PBH, Paulo Roberto Corrêa, no último ano a maior parte dos casos foram registrados em pessoas de 10 a 19 anos, cenário incomum. “Nos últimos anos a média de casos anuais na capital variava entre 20 e 40 casos, sendo que em 2022 e em 2023 a cidade não teve registros da doença. Em 2024 tivemos um cenário modificado no mundo todo, com cidades detectando casos de coqueluche, principalmente no público adulto e jovem. Cidades da Europa e da Ásia tiveram surtos”, afirma.
O diretor avalia que a maior circulação dos casos associada com a baixa imunização das crianças foram fatores que contribuíram para a explosão de casos. Em crianças menores de 7 anos de idade o esquema primário recomendado é composto por três doses da vacina penta (aos 2, 4 e 6 meses de vida), com intervalo de 60 dias entre as doses. Reforços estão recomendados aos 15 meses e aos 4 anos, com a vacina tríplice bacteriana infantil (DTP). Entretanto, em BH apenas 75% dos pequenos têm o esquema completo. O ideal, segundo o Ministério da Saúde, é que 95% seja imunizado.
“A vacina que protege contra a coqueluche diminui a defesa com o passar do tempo e as pessoas ficam suscetíveis. Sobretudo as pessoas que não completaram o esquema de vacinação contra a doença”, explica.
Para tentar frear o aumento dos casos, o Ministério da Saúde ampliou a vacinação para gestantes, profissionais da saúde e servidores da educação. A ideia é que pessoas que tenham contato com crianças — público mais suscetível a casos graves da enfermidade — possam reforçar a imunidade.
A superintendente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) Aline Lara Cavalcanti também destaca a importância da vacinação.
“No caso das mortes dos bebês no ano passado, as mães não eram vacinadas. A vacina é recomendada para todas as gestantes. Se ela engravidar cinco vezes, cinco vezes precisa tomar a vacina”, ressalta ela. Em todo o Estado, a cobertura da vacina pentavalente está em 91,4 %, e o governo de Minas conta com vacimóveis para se aproximar mais da população e chegar a todas as pessoas que devem tomar o imunizante. “É preocupante não manter as coberturas vacinais adequadas”, conclui Aline Cavalcanti.
Gravidade
O infectologista Leandro Curi explica que a coqueluche é uma doença transmitida principalmente por vias aéreas, em contato direto pessoa a pessoa, por meio de tosse, fala, espirro e gotículas. A partir disso, o contaminado passa por várias fases.
“Na primeira, ela costuma dar a fase que a gente chama de ‘catarral’, que tem secreção, tosse, mal-estar, febre. Alguns dias ou semanas depois, é uma fase de tosse arrastada. Quando é criancinha, a gente fala que é aquela ‘tosse de cachorro’ e às vezes a criança tosse, fica até sem ar, que é o grande risco da coqueluche, principalmente em crianças e idosos. Depois, na terceira fase, ela vai diminuindo, pode manter a tosse, mas vai diminuindo em algumas pessoas”, diz ele.
O infectologista lembra, porém, que dependendo da gravidade, a doença pode matar. “Os riscos delas são, geralmente, para esses públicos mais vulneráveis, imunossuprimidos e os extremos de idade de crianças e idosos”, destaca.
Curi afirma que se a vacinação contra a doença melhorar, espera-se uma diminuição do número de casos, embora não de imediato. “A maioria dos imunizantes incluindo coqueluche precisa de uma cobertura de pelo menos 90% a 95% da população para conseguir garantir a imunização de todo mundo. Isso quer dizer que com a baixa de imunidade da população em geral, os anticorpos estão menores, e a doença volta a acontecer e transmitir com mais facilidade. Não só transmitir, ela também desenvolve sintomas em pessoas que não estão vacinadas, com maior gravidade”, conclui.
Conforme o Ministério da Saúde, pessoas que tiveram coqueluche ou que já foram imunizadas podem apresentar reinfecção pela Bordetella pertussis. No entanto, nesse tipo de situação, os quadros clínicos são brandos e semelhantes aos de um estado gripal.
Entenda a doença
Os sintomas da coqueluche costumam aparecer em três fases:
Fase catarral (1 a 2 semanas):
– Nariz escorrendo (Coriza)
– Febre baixa
– Espirros
– Tosse leve e ocasional com aumento gradual que segue a próxima fase
Fase paroxística (2 a 6 semanas):
– Tosse intensa e rápida, que pode durar vários minutos
– Tosse com um som característico de “guincho” ao final
– Vômitos após os episódios de tosse
– Fadiga extrema após os episódios de tosse
Fase de convalescença (semanas a meses):
– Redução gradual da tosse
– Episódios de tosse podem reaparecer com a instalação de outras infecções respiratórias
Tratamento
Após a confirmação do diagnóstico com exames clínicos e laboratoriais, o tratamento é feito com antibióticos. Além de repouso, hidratação adequada e medicamentos para aliviar os sintomas. É indispensável manter o paciente isolado até o término do antibiótico para evitar a propagação da doença.
Transmissão
A transmissão da coqueluche ocorre, principalmente, pelo contato direto do doente com uma pessoa não vacinada por meio de gotículas eliminadas por tosse, espirro ou até mesmo ao falar.
Esquema vacinal
Três doses da tríplice bacteriana: aos dois, aos quatro e aos seis meses de idade. Depois, uma dose de reforço aos 15 meses e um segundo reforço aos quatro anos. Gestantes também devem receber a vacina a partir da 20ª semana de gestação para proteger o bebê.