SEGURANÇA

Câmara de BH nunca obteve Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros

Câmara de BH nunca obteve Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros

Câmara de BH nunca obteve Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros
Publicado em 11/01/2025 às 8:37

O prédio da Câmara Municipal de Belo Horizonte funciona, desde sua inauguração, sem o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), documento emitido pela corporação que comprova haver no imóvel condições de combate a incêndios. O restaurante popular, que fica no mesmo prédio, também não tem o AVCB.

Na Câmara funcionam os gabinetes de 41 vereadores, plenário e estrutura administrativa, o que envolve a presença de aproximadamente mil pessoas, entre parlamentares e funcionários no dia a dia do prédio, fora o número de visitantes. Já no restaurante popular, são servidas diariamente cerca de 500 refeições.

O AVCB é exigido pelo Corpo de Bombeiros para a liberação do funcionamento de imóveis públicos, comerciais, industriais e residenciais. O prédio da Câmara da capital foi inaugurado em 2 de julho de 1988, há 36 anos, portanto. A ausência do AVCB pode ocasionar advertência, multa e interdição do imóvel. Nada disso ocorreu, até o momento, com a Câmara de BH.

A reportagem enviou questionamentos para o Corpo de Bombeiros, e também para a presidência do Poder Legislativo, sobre o que já teria sido feito para a liberação do AVCB e porque o prédio não foi interditado. Especificamente em relação aos bombeiros, a reportagem solicitou que as respostas fossem enviadas até o início da tarde dessa sexta-feira (10 de janeiro), mas a assessoria da corporação informou que não haveria tempo suficiente para responder. “Para fazer o levantamento dessas informações, teríamos que pedir à nossa seção que trabalha com os processos de análise e vistoria, e isso demandaria um tempo maior. Como são muitos pedidos que chegam, o tempo da demanda acabou passando do prazo. Mas nos colocamos à disposição para demandas futuras”, diz nota da corporação.

Questionou também a Prefeitura de Belo Horizonte, responsável pelo restaurante popular. A resposta foi que a emissão do documento ficou sob os cuidados da Câmara na reabertura do estabelecimento, após obra, em 2023, durante a gestão de Gabriel Azevedo (MDB), encerrada no mês passado. Os questionamentos enviados ao Poder Legislativo não foram respondidos até a publicação desta reportagem. O atual presidente da Casa é Juliano Lopes (Podemos).

Já Gabriel Azevedo afirmou que, durante o período em que esteve à frente do Legislativo, tentou obter o AVCB. Porém, pelo fato de o prédio já estar em obras, que continuam até o hoje, o documento não foi emitido. “É importante destacar que, desde 2022, sob a presidência da (hoje) deputada federal Nely Aquino, a estrutura da sede do Poder Legislativo tem passado por uma série de melhorias e atualizações em sua estrutura”, disse o ex-presidente, em nota. Também procurada, Nely Aquino não retornou os contatos. Ela foi vereadora por Belo Horizonte entre 2017 e 2022, quando foi eleita para a Câmara dos Deputados, e presidiu a Casa em 2021 e 2022.

Entre os pontos analisados na emissão do AVCB estão a presença de extintores, rotas de fuga e o nível de dificuldade para acesso do Corpo de Bombeiros. Para conseguir o documento, o proprietário ou responsável pelo prédio, no caso, a presidência da Casa, precisa submeter à análise do Corpo de Bombeiros um Projeto de Segurança Contra Incêndio e Pânico. A reportagem questionou a Câmara se esse projeto já foi repassado à corporação, mas também não obteve resposta.

Em relação ao restaurante popular, o endereço do estabelecimento é o mesmo da Câmara – avenida dos Andradas 3. 100 – apesar de a entrada ser pela avenida Churchill, que fica atrás da sede do Poder Legislativo municipal, na região Leste da capital. Isso significa que o AVCB a ser emitido para a Câmara é o mesmo para o restaurante.

Ao menos parte dos vereadores da Casa, sobretudo os que têm mais de um mandato, já teriam ciência de que a Câmara não tem o AVCB. Em relação aos servidores, somente os que possuem proximidade com o tema teriam conhecimento da situação. O local conta também com “público flutuante”, como, por exemplo, excursões estudantis.

Cidade Administrativa também não tem AVCB

A falta do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) na Câmara Municipal de Belo Horizonte repete o que acontece na sede do governo de Minas Gerais, a Cidade Administrativa. Inaugurada em 4 de março de 2010, o conjunto de prédios projetados por Oscar Niemeyer segue sem o documento.

Nessa sexta-feira (10 de janeiro), o governo do Estado informou que o processo de contratação do Projeto de Segurança Contra Incêndio e Pânico do complexo está em andamento. O projeto precisa ser enviado para análise do Corpo de Bombeiros. Se aprovado, o AVCB é emitido.

Os três edifícios principais do complexo – o Palácio Tiradentes, onde fica o governador, e os prédios Minas e Gerais, que abrigam a maioria das secretarias, inclusive as pastas de Gestão, Saúde e Educação – não possuem o AVCB. Cerca de 8.000 pessoas trabalhavam no local.

A partir de maio do ano passado, no entanto, o número foi reduzido, após elevadores dos prédios Minas e Gerais apresentarem problemas e serem interditados por manutenção. No início de janeiro de 2025, os servidores começaram a voltar gradualmente ao trabalho presencial.

O único prédio do complexo que tem o AVCB é o Alterosas, inaugurado em 2017, que abriga um batalhão da Polícia Militar. Segundo o governo, apesar de não contar com o AVCB, todos os edifícios da Cidade Administrativa têm equipamentos de combate a incêndios, como brigadas, alarmes, chuveiros automáticos, hidrantes, sinalização e iluminação de emergência.

Em audiência pública na Assembleia Legislativa em novembro de 2023, o Corpo de Bombeiros informou que 35 das 110 sedes da própria corporação no Estado não tinham AVCB, mas que a situação seria regularizada em 2024. No entanto, a assessoria dos bombeiros não respondeu se a situação já havia sido regularizada.

Riscos de incêndio


A região metropolitana de Belo Horizonte registrou média de quase 30 incêndios em imóveis por semana em 2024. Conforme levantamento do Corpo de Bombeiros, entre janeiro e outubro do ano passado foram mais de 1.150 incêndios em imóveis. A maior parte dos incêndios ocorreu em casas (59%), que, segundo os bombeiros, são mais vulneráveis por não terem a exigência do AVCB. Para estabelecimentos comerciais e prédios públicos, a regra é ter AVCB.