VEREADORES DA CAPITAL

Clima de revanche na Câmara incomoda e aliados de Juliano Lopes querem “virar a página”

Presidente do Poder Legislativo de BH vem fazendo modificações em projetos e obras realizadas por seu antecessor

Clima de revanche na Câmara incomoda e aliados de Juliano Lopes querem “virar a página”
Publicado em 21/01/2025 às 9:42

Um clima de revanche instalado na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte vem incomodando até mesmo aliados do presidente da Casa, vereador Juliano Lopes (Podemos). A causa são intervenções físicas que começaram a ser feitas no prédio do Poder Legislativo municipal, na região leste da capital, desde que Lopes foi eleito para o cargo, em 1º de janeiro deste ano.

Todas as intervenções no prédio atingem projetos e obras na Casa realizados pelo ex-presidente da Câmara, Gabriel Azevedo (MDB), que esteve no cargo hoje ocupado por Lopes no biênio 2023/2024. Azevedo foi vereador por dois mandatos, de 2017 a 2020 e de 2021 a 2024. Na eleição do ano passado, disputou a prefeitura e ficou em quarto lugar.

Lopes e Azevedo não se falam desde 2023. O ex-presidente da Casa, em acordo fechado com o grupo de vereadores conhecido como “Família Aro”, ligado ao secretário de estado de Casa Civil, Marcelo Aro, conseguiu votos suficientes e foi eleito para o comando da Casa em 2022.

O acerto, porém, previa que Azevedo ocuparia o posto por um ano e o entregaria a Lopes ao final de 2023. Após desentendimento, o pacto foi rompido e o ex-presidente permaneceu no posto. O primeiro sinal de que Lopes poderia não ter superado o passado foi dado quando, na semana passada, conforme mostrou a reportagem, o vereador desmontou o museu com documentos históricos de Belo Horizonte que Azevedo havia instalado ao lado da sala da Presidência.

Os vereadores alinhados a Lopes, que falam haver necessidade de o presidente “virar a página”, passaram a ter certeza de que se tratava de uma desforra quando ficaram sabendo, nesta semana, de nova modificação na Casa, desta vez, no salão também próximo à Presidência que abriga os retratos dos ex-presidentes, inclusive o de Azevedo, espaço que pode ser visitado por quem vai à Casa .

A intenção de Lopes seria dar ao salão a funcionalidade anterior à entrada do ex-presidente do cargo, quando o ambiente funcionava como local de reunião, podendo ser requerido pelos vereadores. A reportagem enviou questionamentos à Presidência da Câmara sobre os motivos das alterações na Casa e o que mais poderá ser modificado, mas não houve retorno.

Há outras modificações que podem ser feitas por Lopes, todas, ao menos até o momento, relacionadas ao período em que Azevedo esteve no comando da Casa. Uma tem relação com a imprensa. A sala destinada aos repórteres que fazem a cobertura do Poder Legislativo municipal tem uma abertura que se comunica com o Plenário.

É comum parlamentares e jornalistas conversarem por esta abertura, sobretudo para retirada de dúvidas sobre o andamento das sessões. As entrevistas mesmo geralmente são feitas na porta do Plenário. A pelos menos parte dos vereadores, Lopes já demonstrou interesse em acabar com esta abertura, possivelmente instalando um vidro.

O presidente da Casa estaria pronto também para proibir a presença de repórteres dentro do Plenário, como ocorreu durante a gestão passada. Outra intervenção que poderá ser feita por Lopes diz respeito à Praça da Constituinte, inaugurada por Azevedo em área em frente à Câmara em 2023, nas comemorações dos 35 anos da Constituição de 1988.

A praça conta com obras do escultor Amilcar de Castro e uma estátua do ex-vereador Elias Murad (1924/2013), deputado federal constituinte e parlamentar na Câmara de Belo Horizonte por dois mandatos, de 2005 a 2008 e de 2009 a 2012. O ex-vereador Gabriel Azevedo não foi localizado pela reportagem para comentar a situação.