GASOLINA
Com preço ‘padronizado’ em BH, motorista abastece mais barato no interior de Minas
Em algumas cidades, como Divinópolis, o preço da gasolina chega a ser até R$ 0,70 mais barato do que em BH
Com uma padronização no preço da gasolina em postos de Belo Horizonte, abastecer no interior de Minas Gerais está mais barato do que na capital mineira. Dados compilados pela reportagem com base nas pesquisas do site Mercado Mineiro mostram que o motorista paga, em média, R$ 6,39 no litro do combustível na capital.
No interior, no entanto, é possível abastecer com a gasolina pagando menos de R$ 6 em algumas cidades. Além do valor mais elevado, o levantamento feito pela reportagem também mostra que mais da metade dos postos de combustíveis da Grande BH vendem o litro da gasolina por R$ 6,39, situação que dificulta aos motoristas conseguirem abastecer os veículos pagando cifras mais baixas. De 201 estabelecimentos pesquisados, 106 têm este mesmo valor.
No interior, os preços foram verificados em Itamonte, Guanhães, Divinópolis, Araxá, São João del Rei, Três Corações, Juiz de Fora, Prudente de Morais, Sete Lagoas, Igaratinga, Congonhas, Jeceaba e Ouro Branco. O valor mais caro encontrado para a gasolina foi de R$ 6,39, em Guanhães, enquanto o mais barato foi em Divinópolis e Itamonte, onde a venda é feita por R$ 5,89.
No caso do etanol, os preços nas cidades variam entre R$ 4,09 em Itamonte, Divinópolis e Três Corações, e R$ 4,69 em Guanhães. Na capital mineira e região metropolitana, de acordo com a última pesquisa do Mercado Mineiro, o preço médio da gasolina é de R$ 6,37, mas há estabelecimentos em que o custo chega a R$ 6,69. Já para o etanol, a média é de R$ 4,46, porém há comercialização do biocombustível por até R$ 4,79.
“Belo Horizonte hoje tem um preço mais alto praticamente que de Minas Gerais, coisa que em outros tempos a gente falava para o consumidor encher o tanque para viajar, por exemplo, para ir para o interior, para ir para o sítio. Hoje ele tem que encher o tanque quando ele está lá para voltar para Belo Horizonte, porque o preço das regiões próximas de Belo Horizonte, 70 quilômetros próximos da capital, são menores que a capital. Então, realmente, é um mercado que mudou muito e isso preocupa bastante”, destacou o administrador do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu.
Sobre a padronização dos preços, Abreu ressaltou que isso reduz a possibilidade dos consumidores encontrarem preços mais baixos e conseguirem uma vantagem ao abastecer. “O que resta para o consumidor, como sempre, é pesquisar bastante o preço e privilegiar, nem que seja um posto que tenha um centavo mais barato, porque a partir do momento que ele vai naquele posto que está mais barato e enche seu tanque, por exemplo, os postos que estão acima do preço médio vão ter que redobrar a divulgação ou reduzir seu preço para sobreviver. A gente entende que o posto de combustível só sobrevive se ele circular a mercadoria”, acrescentou.
Postos alegam custos altos e criminalidade
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Rafael Macedo, atribui o preço mais baixo no interior a fatores distintos. Segundo ele, a estrutura administrativa dos postos de combustível da capital são mais robustas do que no interior de Minas.
“Posso falar como um dono de posto de Belo Horizonte que teve quase todos os seus custos aumentados nos últimos 12 meses, dentre esses custos, os valores pagos de aluguéis. Muitas vezes os postos estão naqueles lugares mais bem posicionados da cidade. Tivemos também um custo muito grande de mão de obra e ainda uma dificuldade muito grande na contratação desse tipo de mão de obra, inclusive mão de obra administrativa que é muito diferente dos custos de postos de interior”, argumentou Rafael Macedo.
O presidente do Minaspetro frisou que outro problema que tem desequilibrado os preços entre o interior e BH é o preço do frete. Mesmo com a proximidade maior da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, o custo do transporte para a capital é maior, segundo Rafael. “Isso em função do seguro de carga. Já divulgamos anteriormente que a cada dois dias, em média, temos um caminhão roubado na Regap. Isso fez com que o custo do frete subisse muito”, complementou.
Sobre a semelhança de preço na maioria dos postos, a explicação do Minaspetro é que há um paralelismo comercial, “muito comum em mercados muito competitivos e margens estreitas”.
Crime organizado
Rafael Macedo também citou a presença do crime organizado no setor de combustíveis no interior de Minas, como outro motivo para explicar as diferenças de preços com BH. Em junho, O Tempo mostrou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) está controlando mais de 900 postos no Brasil.
“Estamos vendo uma presença massiva, e cada vez maior. Este mercado irregular está crescendo muito principalmente no interior de Minas, vindo mais das partes fronteiriças como Triângulo Mineiro e Sul de Minas. Mas não quer dizer também que não esteja presente nos postos da região central”, indicou o presidente do Minaspetro.
Ele diz que os estabelecimentos que estão sob controle de organizações criminosas têm preços mais baixos nas bombas, mas nem sempre vendem combustível de qualidade. “O objetivo é girar dinheiro e não vender combustível e se viabilizar como uma empresa lucrativa”, arrematou.
MP recebe denúncias
Questionado sobre a situação, o Procon do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que, em 2023, recebeu 118 denúncias relacionadas ao setor de combustíveis. Em 2024, foram registradas 42 queixas até julho. O órgão não informou se apura casos de combinações de preço e formação de cartel. Sobre a presença de organizações criminosas, o MP não realiza nenhuma investigação.
“O Procon-MG fiscaliza as atividades relativas ao abastecimento nacional de combustíveis, a partir da análise dos produtos comercializados no mercado de consumo, verificação da quantidade de combustíveis disponibilizados pelas bombas abastecedoras, além da avaliação dos aspectos de segurança, prestação da qualidade do serviço, atendimento ao consumidor e disponibilização de informações obrigatórias, nos termos do convênio firmado com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)”, diz a nota do MPMG.
As reclamações podem ser feitas no site do Procon e, posteriormente, serão encaminhadas para a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, que poderá determinar, a partir dos elementos apresentados pelo reclamante, procedimentos de apuração.