“Votar para prefeito, vereador e na bandeira de BH é muita obrigação”, diz líder social
A expressão “Trocar Alhos por Bugalhos” é usada quando alguém mistura ou confunde coisas diferentes, ou que não tem relação uma com a outra. É uma forma de confundir com a falta de clareza de alguém ao fazer comparações equivocadas. A frase usa um trocadilho com as palavras alho, que é um alimento, e bugalhos, que são galhas arredondadas. Ambas são plantas, porém coisas totalmente diferentes. Pois é isso que acontecerá no dia da eleição municipal para prefeito e vereadores da capital mineira. Além de votar para eleger prefeito e os 41 vereadores para a Câmara Municipal, haverá a seguinte pergunta na urna eletrônica: “Você aprova a alteração da bandeira de Belo Horizonte?”.
A aprovação da proposta por referendo é a condição para que entre em vigor a Lei 11.559, aprovada pela Câmara Municipal em 31 de julho de 2023. A proposição retira a Serra do Curral do estandarte e por isso não agradou a maioria dos 10 candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Seis dos postulantes ao cargo declaram ser contra a alteração contra dois favoráveis à troca. Outros dois ainda não decidiram sobre o assunto.
Embora seja compreensível que a mobilização para as eleições também sirva para que a realização da consulta popular sobre a manutenção ou troca da bandeira, são temas que nada tem a ver um com o outro.
Maurício Duarte, presidente do Centro de Apoio às Entidades Comunitárias e Sociais (CAECS-MG) e coordenador da campanha de Mauro Tramonte na região Nordeste da capital mineira (foto), vê com desconfiança a ideia de promover as duas votações na mesma urna eletrônica. Para ele, há um candidato que é prefeito licenciado da PBH e que pode vir a ser beneficiado por essa combinação.
O líder social argumenta que o eleitor terá de votar primeiro no candidato a vereador e a seguir no candidato a prefeito, para depois decidir se vota na opção número 1, que é favorável à mudança, ou na opção 2, caso seja contrário. Haverá também a opção do voto em branco, para aqueles que não optarem por nenhuma das duas anteriores.
“É muita obrigação”, reclama Duarte, dizendo que o voto eleitoral já é obrigatório. “Não precisava confundir tanto as coisas”, afirma o presidente do CAECSMG, em tom condenatório.
FUAD EM DÚVIDA
O prefeito Fuad Noman (PSD), que concorre à reeleição, enxerga pontos positivos e negativos na manutenção ou na troca do símbolo do município, dizendo que ainda não decidiu votar sim ou não. A posição de Noman reforça a desconfiança de Maurício Duarte, que alega: “Se um político está em dúvida sobre a decisão, imagine o cidadão comum”.
O deputado federal e candidato do PT, Rogério Correia é taxativo, dizendo não querer que mude a bandeira: “Deixa a bandeira antiga. Nós já estamos acostumados com ela, tem a Serra do Curral e outros símbolos importantes nela”.
A manutenção também foi defendida pelos candidatos Indira Xavier (UP) e Wanderson Rocha (PSTU). Indira questionou que o tema não foi amplamente debatido com a população. O candidato do PSTU criticou a aprovação do referendo, referindo-se à disputa travada nos tribunais sobre a exploração mineral da Serra do Curral, cujas licenças para a realização de atividades têm sido questionadas, inclusive pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
TRAMONTE: “PRA QUE MUDAR?”
O apresentador e deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) declarou-se contra a nova bandeira. “A bandeira de Belo Horizonte sempre existiu. Pra que mudar? Está linda! Ela é linda! Pra que mudar?”, disse.
Apesar de considerar bonitas as duas propostas de bandeira, o deputado estadual Bruno Engler (PL) ponderou que a cidade possui outras prioridades e que as mudanças na imagem do estandarte não fazem sentido, não vendo motivo para a alteração.
Na mesma linha de raciocínio, a deputada federal Duda Salabert (PDT) ressaltou a existência de outras prioridades para Belo Horizonte, mostrando que o dinheiro que está sendo investido para fazer o plebiscito poderia ser destinado para a saúde ou educação, que são questões urgentes. Ela propõe que essa discussão aconteça no dia em for zerada a fila de cirurgias eletivas, por exemplo, pois atualmente há cerca de 28 mil pessoas aguardando a realização de algum procedimento na capital.
PELA MUDANÇA DO ESTANDARTE
Quem defende a proposta é o presidente da Câmara, Gabriel Azevedo (MDB), que argumenta não haver uma bandeira de Belo Horizonte, mas sim um brasão. “Nós precisamos ter um brasão e uma bandeira”, afirma. Por sua vez, a candidata Lourdes Francisco (PCO) destaca que a nova bandeira destaca o pico de Belo Horizonte. O senador licenciado Carlos Viana (Podemos) preferiu abster-se, deixando a decisão para a Câmara e mostrando ser favorável à consulta popular.
O novo desenho é de autoria do designer belo-horizontino Gabriel Figueiredo, que torna o desenho do estandarte mais simples, com o retângulo dividido de forma diagonal, sendo verde a metade inferior e a superior predominantemente azul, com um meio sol com oito pontas, no centro.
Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)